TEA atinge 70 milhões de pessoas no mundo
- praticajornalistic
- 3 de jun. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 5 de jun. de 2024
Associações como a Abraço Azul, atuante na cidade mineira de Frutal, pautam o debate sobre o bem-estar de pessoas que passam por violações de direitos humanos e enfrentam a estigmatização e discriminação
Texto: Paula Diniz
Edição: Ariane Lemos

O mês de abril é marcado por manifestações em prol da conscientização do autismo. Crédito: Paula Diniz
Você sabe o que é TEA? Sabia que 70 milhões de pessoas em todo mundo possuem TEA? Que existe uma cor dedicada ao TEA? E, ainda, que o TEA pode ser diagnosticado ainda na infância?
TEA é a sigla para Transtorno do Espectro Autista, condição caracterizada pela alteração das funções do neurodesenvolvimento, segundo o Ministério da Saúde. A condição apresenta algum grau de comprometimento social, na comunicação e/ou na linguagem. Ele está presente em atividades que são únicas para a pessoa com TEA e acontecem repetitivamente, conforme informações da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
O TEA inicia na infância e tem permanência durante a adolescência e vida adulta. De acordo com a OPAS, as condições podem ser identificadas já nos primeiros anos de vida, na maioria dos casos. O órgão de saúde informa ainda que, no mundo todo, pessoas que possuem o transtorno são sujeitas à estigmatização, discriminação e passam por violações de direitos humanos. Além disso, afirma que globalmente os serviços e apoio para esse público é inadequado.
Abril semeia conscientização
Como forma de ampliar a discussão sobre o assunto, foi instituído no calendário da saúde 02 abril como o Dia Nacional de Conscientização do Autismo, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007. As ações em torno do tema se intensificam durante todo o mês, chamado de Abril Azul. Nesse período, o tema é amplamente reforçado para levar informação à população sobre as pessoas que possuem a condição, desmistificando conceitos, ideias e abrangendo o debate acerca da inclusão.
O azul foi associado à campanha porque, segundo o Ministério da Saúde, a cor estimula o sentimento de calma e de maior equilíbrio para as pessoas com TEA. Além disso, afirma o órgão, o símbolo do infinito multicolorido também representa a pauta, pois foi escolhido e criado por autistas.
ONG debate TEA
Na cidade de Frutal (MG), a Associação Abraço Azul, representante da causa no município, desenvolve diversas ações que promovem o conhecimento especializado para toda comunidade.


No dia 02 de abril foi realizada uma carreata silenciosa com o intuito de divulgar a relevância da data e reunir profissionais, pais e as crianças que são portadoras do transtorno para uma significativa homenagem na Praça da Matriz. A celebração foi feita em total silêncio por empatia aos autistas que sofrem com a sensibilidade de sons, com veículos que atravessaram a cidade carregando balões azuis. No ponto de chegada, a Paróquia Nossa Senhora do Carmo, no Centro de Frutal, todos os presentes realizaram a soltura dos balões no céu límpido e azul, que preencheram e se misturaram às cores em um momento de celebração. Créditos: Paula Diniz
A presidente da Abraço Azul, Taciany Rodrigues, explica que a finalidade da ação consistiu em levar mais conscientização à população frutalense. “Essa carretada tem um símbolo muito importante para a nossa comunidade, para que as pessoas parem e vejam que nós existimos e que estamos lutando por essa causa”, afirma a fundadora da Associação.
O membro da diretoria da Associação, Paulo André Araújo, destaca a importância de levar essa pauta para a população de Frutal. “A relevância é, acima de tudo, a difusão de conhecimento para a inclusão. Temos um público autista cada vez mais presente na sociedade, e, em qualquer ramo de atividade que você frequente, vai encontrar ou uma pessoa que é ou possui um familiar autista. A grande maioria ainda não tem conhecimento da causa”, ressalta Paulo André.
Questionada sobre de que que forma as escolas podem contribuir no desenvolvimento do aluno com TEA, a coordenadora Taciany Rodrigues menciona a importância da informação. “Se especializando e estudando não somente o transtorno do espectro autista, mas também os demais, conhecendo critérios e características, a intervenção em sala será mais segura em ambas as partes”, explica a profissional.
Ela sugere ainda como a inclusão deve ser feita com os estudantes. “Incluir significa fazer parte do momento em que o aluno é incluído, ele começa a pertencer e com este pertencimento, os outros alunos se sentem à vontade para ficar perto, brincar e ensinar”, aponta Taciany.
A supervisora da Escola Estadual Maestro Josino de Oliveira, Gislaine Maria dos Santos, conta que trabalha hoje com cinco estudantes autistas. Na rotina escolar, são realizadas atividades adaptadas de acordo com os componentes curriculares e estes alunos contam com um professor de apoio, que atende até três estudantes por ano escolar e sala. “Além disso, a escola possui a Sala de Recursos (AEE) com professores especializados e que atendem os alunos contraturno, desenvolvendo atividades cognitivas e metacognitivas”, menciona Gislaine.
Autismo em foco
A psicopedagoga, Niely Reis, representante da Abraço Azul, realizou importante palestra em 27 de abril, que reuniu a comunidade frutalense no anfiteatro da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Aproximadamente 300 pessoas participaram do encontro que reuniu palestrantes de diversas áreas com discussões em torno do TEA.

Com o tema “Autismo em Foco: Diagnóstico, Intervenção e Direitos”, Niely abordou a história do autismo como forma de ampliar o conhecimento sobre como a condição chegou ao nível de informação essencial de hoje. Crédito: Paula Diniz
Aos participantes, Niely explicou como é feito o diagnóstico do transtorno do espectro autista: “O diagnóstico é clínico, baseado em critérios pré-estabelecidos, não existem marcadores biológicos, ou seja, não existe um exame que diz se tenho ou não a condição”. A psicopedagoga completou dizendo que os sintomas estão presentes já nas primeiras etapas do desenvolvimento, apesar de que muitos descobrem apenas na vida adulta.
De mãe para mãe
O Abril Azul é um mês que existe com o intuito de levar informação e consciência, e, principalmente, respeito à condição. A fundadora da Abraço Azul, Taciany Rodrigues, que também tem um filho com o transtorno, menciona o que é essencial que seja compreendido pela sociedade. “Os autistas, assim como aves, são diferentes em seus voos. Todos, no entanto, são iguais em seu direito de voar. Do lado de fora, olhando para dentro, você nunca poderá explicá-lo, isso é autismo. Faça tudo que tiver ao seu alcance para enxergar o mundo pela visão dele. Só assim é possível entender como um autista pensa e, consequentemente, age”, defende Taciany.
A psicopedagoga, Niely Reis relata como é a rotina do filho e o que o dia a dia escolar proporciona de benéfico para o desenvolvimento e bem-estar dele.
“O Guilherme hoje é autista nível I de suporte, um menino super inteligente, que acompanha a turma escolar e algumas dificuldades que ele apresenta, é de uma criança neurotípica da idade dele. Em relação à rotina, procuramos mostrar e conversar sempre com ele sobre onde vamos, quando vamos e o que terá no local. Essa previsibilidade o torna mais seguro, porém, não seguimos uma rotina restrita ou metódica, pois procuramos mostrar pra ele que a vida muda a todo instante e nem sempre temos controle sobre o que irá ocorrer. Apesar disso, temos que manter a calma e (acreditar) que tudo dará certo. Ele estuda na rede privada de ensino (Escola Particular Presidente Vargas) e, antes de ser inserido, confesso que eu tinha um certo receio sobre como iriam acolhê-lo e em como seria esse processo. Há quatro anos na escola, confesso que não vejo ele em outro lugar! A escola foi de grande importância em todo processo evolutivo dele, e sempre digo que Deus tem um carinho especial por ele, pois teve professoras fantásticas que fizeram a diferença realmente nesse processo. Sou grata a cada uma e a cada um que trabalha na escola, pois acolheram ele com tanto amor e olham pra ele a todo instante tentando incluí-lo a todo momento e ele se sente pertencente realmente naquele ambiente. Como mãe me sinto agraciada e abençoada, gostaria que todas as mães se sentissem assim. A inclusão de verdade ainda está engatinhando, mas não podemos negar que já avançamos muito, mas não paramos por aqui, esse processo é desafiador, mas não vamos para de lutar pelos nossos filhos, nunca!”










Comentários