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Saúde sexual em dia

  • praticajornalistic
  • 6 de jun. de 2023
  • 6 min de leitura

Atualizado: 12 de jun. de 2023

Prevenção e enfrentamento são palavras de ordem quando o assunto são as infecções sexualmente transmissíveis, ISTs. Diagnóstico precoce e acolhimento são fundamentais para se alcançar bons resultados no tratamento


Por Lucas Malta


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O método mais eficaz para prevenção de ISTs, é o uso do preservativo. Crédito Reprodução/Freepik.


Por trás das estatísticas e dos números crescentes, há histórias que revelam a necessidade de reforçar os cuidados e informações acerca das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). No Brasil, milhares de pessoas enfrentam os impactos físico e emocional de diagnósticos dolorosos enfatizando a necessidade de cuidado integral. Essas infecções são transmitidas por contato sexual (oral, vaginal ou anal) com uma pessoa infectada, em consequência do não uso do preservativo masculino ou feminino.


O termo DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis), como era conhecido, foi alterado em novembro de 2016 pelo Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das DSTs do Ministério da Saúde. A mudança se fez necessária para ampliar as análises sobre as infecções sexuais, denominando o novo termo ISTs, que abrange uma visão mais ampla dos agentes infecciosos como bactérias, fungos e vírus transmitidos. Dentre as infecções estão HIV/AIDS, sífilis, hepatites, gonorréia, clamídia e herpes genital. Elas podem afetar tanto homens quanto mulheres e podem ser assintomáticas, possibilitando que uma pessoa seja portadora de algum vírus e não apresente sinais visíveis da infecção.


Em boletim epidemiológico divulgado pelo Departamento de Doenças Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, de 2007 até junho de 2022, foram notificados 434.803 casos de HIV no Brasil, sendo 40.880 novos casos diagnosticados apenas em 2021. Os homens foram os que mais contraíram a doença – representando mais do que o dobro (305.197 casos) enquanto em mulheres houve 129.473 notificações confirmadas.


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Arte: Lucas Malta



Já para a sífilis, a Secretaria de Vigilância e Saúde por meio do Ministério da Saúde divulgou que, no período de 2011 a 2021, foram registrados 1.035.942 casos da infecção no Brasil. As mulheres foram mais infectadas sendo 874.417 casos e 627.330 em homens. Os dados ainda revelam que apenas em 2021 foram notificados 167.523 casos de sífilis no país.


“Nunca temi a morte. Nunca tive medo do fim. Mas nesse dia eu fiquei com medo, senti medo de nunca mais poder abraçar minha mãe...’’

Em dezembro de 2022, o técnico em enfermagem Lucas dos Santos, 30 anos, foi diagnosticado com HIV e sífilis. “Eu descobri porque meu cabelo estava caindo muito, então fui até a dermatologista que me solicitou exames’’, lembra. Seis meses após o diagnóstico, Lucas enfrenta a nova rotina de cuidados e sentiu a necessidade de falar sobre o assunto. O técnico criou um perfil no Instagram @diariodeluca onde posta conteúdos que variam entre aconselhamentos e tratamento, sempre com o propósito de quebrar tabus advindos com o diagnóstico positivo.


“Eu percebi que nenhum diagnóstico vem para gerar morte, através dele podemos gerar vida. Assim como na rede social, quando lançamos palavras de esperança, amor e fé, podemos gerar vida no nosso próximo’’

Embora muito já se conheça sobre o vírus HIV, incluindo meios de tratamento que façam a carga viral da pessoa indetectável, o estigma social e o preconceito ainda persistem. Para Lucas falar abertamente sobre o diagnóstico e suas consequências é uma forma de oferecer acolhimento a pessoas em situação semelhante. “Recebo feedbacks diariamente de pessoas que assim como eu receberam esse diagnóstico, de filhos que tem pais com o mesmo problema, de famílias que não sabem como lidar’’ afirma sobre seu engajamento no assunto nas redes sociais.


Lucas dos Santos, do perfil @diariodeluca conta um pouco sobre seu diagnóstico para o HIV.

Vídeo: arquivo pessoal


Sintomas e prevenção


A pessoa infectada com HIV pode ter sintomas que variam entre febre, fadiga, dor de garganta, perda de peso, dor muscular, erupção cutânea e suores noturnos. Já os sintomas de outras ISTs incluem ferida indolor ou lesões (geralmente nos órgãos genitais, ânus ou boca) que podem desaparecer espontaneamente. Dor ao urinar, inchaço dos testículos, corrimento espesso ou sangramento vaginal fora do ciclo menstrual também são indícios que devem ser comunicados imediatamente a um médico especialista. Além disso, é possível que uma pessoa seja portadora de uma IST e não apresente sinais visíveis da infecção. É por isso a importância da realização de testes regulares, especialmente para pessoas sexualmente ativas, para que haja um diagnóstico precoce e tratamento adequado, mesmo na ausência de sintomas.


A prevenção é sempre fundamental para reduzir o risco de contrair ou transmitir essas infecções. Existem medidas preventivas eficazes que podem ser adotadas, a exemplo do uso correto e consistente de preservativos masculinos ou femininos durante as relações sexuais. Essa medida impede o contato direto dos fluidos corporais infectados. A testagem regular para detecção de ISTs é uma estratégia recomendada, bem como a limitação de parceiros sexuais. Além disso, a prevenção exige uma abordagem ainda mais abrangente, incluindo a educação sexual e ampliação do acesso a serviços de saúde.


Avanços na medicina


Os métodos de tratamento para ISTs têm avançado significativamente ao longo das últimas décadas. São usados medicamentos como antibióticos, antivirais e antifúngicos. Métodos, em especial para o HIV, foram desenvolvidos para controlar a disseminação e melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem com a doença.


A terapia antirretroviral é o tratamento padrão, consiste no uso diário de medicamentos que impedem a replicação do vírus e reduzem a carga viral no organismo. Os mais comuns são a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e a PEP (Profilaxia Pós-Exposição). O primeiro é o método que previne que as pessoas não infectadas pelo HIV tenham risco reduzido de infecção, é recomendado para parceiros sexuais de pessoas soropositivas. Já a PEP, é um tratamento de emergência após uma possível exposição ao HIV, idealmente deve ser iniciada dentro de 72 horas após a exposição; vale ressaltar que toda medicação aqui citada deve ser prescrita sob orientação médica adequada.


Victor Vedoy, 26 anos, doava sangue com bastante frequência até que no mês de abril de 2023 um de seus exames sofreu alteração. “O laboratório entrou em contato comigo para ir lá urgente. Quando cheguei, a enfermeira disse que o exame de HIV tinha dado positivo”, conta. “No início eu fiquei triste foi um susto, pensei para mim mesmo ‘vou morrer, tudo vai acabar’. Mas não é bem assim, a médica conversou comigo e explicou que existem medicamentos que são capazes de tratar e controlar o vírus a vida toda”, detalha Victor após o diagnóstico.


“A gente tem que mostrar para os outros, que não tem o porquê se esconder. Viver com HIV não é o fim do mundo, eu quero conscientizar e mostrar que a gente não precisa ter vergonha’’

O urologista Marcelo Zago explica que ainda existe um preconceito muito grande em relação a exames e acompanhamento com um médico. “Gosto de comparar com as mulheres, elas consultam com ginecologistas desde a adolescência e isso passa a ser uma coisa natural, o que deveria também acontecer com os homens’’, explica o médico.


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O urologista Marcelo Zago reforça a importância de homens e mulheres consultarem com um profissional, no mínimo, uma vez por ano. Crédito: Lucas Malta/UEMG



Pesquisa publicada em julho de 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em conjunto com ao Pesquisa Nacional de Saúde dos Escolares (PeNSE), notificou redução do uso de preservativos entre adolescentes em relações sexuais, entre os anos de 2009 e 2019. “Nos últimos dois anos, vejo que tem aumentado o número de pacientes, principalmente de jovens, que me procuram com quadro de doenças sexualmente transmissíveis. Isso está intimamente atrelado ao uso de preservativo’’, afirma o urologista.


A descoberta do HIV


A AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) foi um marco na história da medicina. O primeiro registro foi protocolado em junho de 1981 pelo Relatório Semanal de Morbidez e Mortalidade dos Centros de Controle e Prevenção dos Estados Unidos (CDC). Os primeiros casos surgiram em pessoas consideradas de alto risco, como homens que faziam sexo com outros homens e usuários de drogas injetáveis. Ainda no período da descoberta, a doença tomou um lado repleto de preconceitos e estigmas sendo chamada de “peste gay”, impedindo até que comunidades homoafetivas buscassem ajuda médica.


A descoberta do vírus desencadeou um intenso esforço de cientistas para compreensão da origem e mecanismos de transmissão. Em 1983, os estudos de Luc Montagnier (França) e Robert Gallo (EUA) levaram à identificação do vírus HIV, confirmando a hipótese de que era causada por um retrovírus associado à imunodeficiência e à linfadenopatia. Desde então, avanços significativos foram alcançados no tratamento e prevenção como terapias antirretrovirais desenvolvidas para controlar a replicação do vírus e preservar a função imunológica.

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O Dezembro Vermelho marca o mês de mobilização contra as ISTs. Crédito: reprodução/Freepik.


Campanhas de prevenção


Todos os anos, o Ministério da Saúde em conjunto com o Sistema Único de Saúde (SUS) reforçam as campanhas de combate e prevenção de doenças como HIV, herpes, gonorreia, sífilis e hepatites. O Dezembro Vermelho é uma das ações que acontecem em toda rede pública de saúde, com mídia na televisão, conteúdos nas redes sociais e marca uma mobilização na luta contra o vírus HIV e outras IST’s. As redes municipais de saúde disponibilizam atendimento gratuito por meio do SUS e realizam testes rápidos para IST’s no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), que também oferece orientações e de profissionais da psicologia e resguarda o sigilo e confidencialidade.

 
 
 

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