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Da colheita na roça ao próprio negócio

  • praticajornalistic
  • 6 de jun. de 2023
  • 5 min de leitura

Atualizado: 12 de jun. de 2023

Cursos gratuitos incentivam moradores de Boa Esperança do Sul (SP) a iniciarem o próprio negócio. Especialista do Sebrae explica como o empreendedorismo é capaz de desenvolver a economia de cidades brasileiras


Por Rian Fernandes

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Gislaine Aparecida Rodella da Silva se capacitou em um curso da Assistência Social de
Boa Esperança do Sul (SP) e hoje tem o próprio negócio. Crédito: Rian Fernandes.


De uma vida profissional sofrida, com dias de sol e chuva para o início do próprio negócio na área de beleza. Assim foi transformada a vida de Gislaine Cristina Rodella da Silva, 36 anos, na pequena cidade de Boa Esperança do Sul, na região central do estado de São Paulo. O ano de 2022 marcou a virada de sua rotina profissional, quando decidiu se inscrever em uma capacitação gratuita oferecida pela Assistência Social do município, enquanto revezava com o trabalho duro na colheita da laranja. Após seis meses de curso, Gislaine investiu todo o seu rendimento trabalhista para embarcar de vez no empreendedorismo.


Com sorriso no rosto e satisfação ao contar sua história, hoje ela possui um pequeno salão de beleza no bairro Palmeiras II, na periferia da cidade. Atende a várias clientes ao dia e consegue fazer o seu próprio horário de trabalho que, para ela, é bem menos cansativo, dolorido e sofrido do que o dos tempos de roça. Época de que Gislaine se recorda bem, como se fosse ontem.


“Eu me levantava às 3h30 da madrugada, todos os dias, para fazer a marmita. Quando era 4h30, tinha que estar no ponto. Dependendo do lugar, era mais de uma hora de relógio para chegar ao trabalho. Mas se fosse uma viagem para uma fazenda mais longe, eram entre 2h e 2h30”, relembra sobre a rotina diária que fazia para buscar o seu ganha pão, sustento para ela e sua família. Esses horários significavam apenas o início de uma jornada de trabalho que terminava no fim da tarde e, às vezes, à noite.


Diante do suor na roça, Gislaine viu no curso de manicure e pedicure oferecido pela Assistência Social de Boa Esperança do Sul uma oportunidade de aprender, buscar conhecimento e empreender. “Fazendo o curso, resolvi investir os meus lucros que tive durante a última safra e abri o meu salão. Eu consegui fazer (o curso) e aqui está o meu investimento. Trabalho de terça a sábado, das 7h às 18h. Tenho bastante clientes, graças a Deus, está indo bem. No começo é difícil, mas com força de vontade e perseverança, a gente consegue”, conta, depois de ter enfrentado vários obstáculos para conquistar o próprio negócio.


Gislaine é um exemplo de como os cursos gratuitos podem ser uma política pública para a mudança de tantas outras vidas e realidades. Ainda mais em locais onde há maior incidência de desigualdade e pobreza, como ocorre em Boa Esperança do Sul, por exemplo. Conforme aponta o Mapa da Riqueza, um estudo divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), publicado em fevereiro de 2023, a média de renda da população da cidade é de R$ 567,50. Em comparação com os outros municípios paulistas, Boa Esperança do Sul é a cidade mais pobre da região de Araraquara-SP.

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Arte: Araraquara Agora/Rian Fernandes.


Empreendedorismo e sociedade


A importância do empreendedorismo é destacada nos trabalhos desenvolvidos pelo Sebrae-SP, como explica a analista de negócios Patrícia Ferrari Peceguini. “O empreendedorismo representa para as pessoas uma oportunidade de que elas sejam protagonistas e que gerem o seu próprio emprego e renda em primeiro momento. Quando bem estruturado, um empreendimento tende a crescer e gerar ainda mais emprego e mais renda, promovendo um círculo virtuoso e desenvolvimento econômico e social. A maior parte dos empregos do país está nos pequenos negócios, que, de maneira pulverizada, absorve mão de obra em grande volume”, esclarece a especialista, que é uma das gestoras do Sebrae-SP na região de Boa Esperança do Sul.


Para Patrícia, realidades como a do município, em que a população pode ser considerada a mais pobre da região, podem ser transformadas pela junção do empreendedorismo com o microcrédito orientado. “É uma possibilidade de que um potencial empresário ou empreendedor informal passe por uma capacitação técnica. Ele entende e pratica o planejamento do negócio e, a partir daí, calcula os riscos e investe com segurança. Caso obtenha tal crédito, a taxa de juros é mais acessível e justa. Na cidade de Boa Esperança do Sul, atualmente, o empreendedor pode contar com a presença de uma unidade do Sebrae aqui em conjunto com o Banco do Povo Paulista”, detalha.


No entanto, a própria especialista confirma que a falta de capital pode ser uma barreira inicial para o começo de um negócio e, ao mesmo tempo, pode ser a motivação para uma vida empreendedora. “A própria dificuldade financeira e a ausência de emprego podem despertar o empreendedorismo. A pessoa identifica algo que saiba fazer bem e começa a fazer para vender. Sabemos que muitos dos pequenos negócios surgiram sem capital inicial, mas com controle e sabedoria para poupar os recursos que obtém. E assim, o empreendedor pode ir injetando recursos no próprio negócio e ter um crescimento gradual e contínuo a ponto de se destacar no mercado”, avalia a consultora.


E o próprio negócio é o sonho para mais da metade dos adultos brasileiros. Pelo menos é o que aponta o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2022, um projeto de pesquisa sobre o empreendedorismo realizado em dezenas de países, incluindo o Brasil. O GEM Brasil 2022 entrevistou duas mil pessoas da população adulta brasileira, entre 18 a 64 anos, e outros 52 especialistas para analisar a situação do empreendedorismo no país.


Diversos dados e informações foram extraídas do projeto, como a conclusão de que o próprio negócio é um sonho. Por outro lado, a pesquisa chama a atenção para a necessidade de melhorias em programas e políticas governamentais para aperfeiçoar as condições para empreender no Brasil. O levantamento aponta que mais de 67% dos especialistas entrevistados recomendam tais melhorias. Além dos avanços em políticas governamentais, educação e capacitação, apoio financeiro e capacidade empreendedora também precisam de melhorias.

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Arte: Araraquara Agora/Rian Fernandes.


Ajuda aos empreendedores


Diante das dificuldades do mundo empreendedor, o Sebrae-SP oferece suporte para quem tem o próprio negócio. Os apoios acontecem tanto na capacitação profissional quanto na legalização do projeto, assim como na estruturação e planejamento. Em parceria com municípios, por exemplo, treinamentos técnicos são levados para as cidades com o intuito de ensinar a fazer e vender determinado produto. “No programa são realizados dois dias de gestão empresarial, agregando informações sobre finanças e marketing, para orientar a precificação do produto, o controle de caixa e a correta divulgação”, ressalta a analista do Sebrae-SP.

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A geração de distritos industriais, com infraestrutura para atração de investimentos e a criação de polos de economia criativa – com cultura, artesanato e feiras – e a agricultura familiar também são opções listadas pela especialista como áreas a serem incentivadas pelas gestões municipais brasileiras. Crédito: arquivo pessoal


Assim como Boa Esperança do Sul proporcionou o curso de manicure e pedicure para Gislaine, outras localidades podem incentivar a prática do empreendedorismo. “Os municípios podem investir em escolas técnicas para criação de mão de obra qualificada, pois isso atrai grandes empreendedores. Normalmente, ao redor de grandes empresas há uma geração de pequenos negócios que irão fornecer bens e serviços. Um dinamismo na economia é gerado neste momento”, ressalta a especialista do Sebrae-SP.


Cursos em Boa Esperança do Sul


Pessoas com pelo menos 16 anos (exceto de soldador, que precisa ter 18 anos) podem se candidatar a uma das vagas no prédio da Assistência Social da cidade, que fica na rua Expedicionário Mário Fernandes, 422. Mais informações podem ser obtidas diretamente na Assistência Social.






 
 
 

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